quarta-feira, 2 de abril de 2014

Galardão ou destruição?


"O projecto da Casa 103, do gabinete Ultramarino / Marlene Uldschmidt Arquitecta, é o vencedor da categoria Interiores Residenciais dos prémios Architizer 2014, com os votos do público. Localizada na vila piscatória de Ferragudo, no Algarve, esta habitação ganha com as várias camadas de vidro, que criam divisões internas e externas, permitindo a entrada de luz natural em todos os quartos. "O desafio foi criar uma fachada que funciona como uma barreira física entre as áreas pública e privada, ao mesmo tempo que reforça a ligação visual com a vila e o rio", define o gabinete algarvio. Os vários níveis da Casa 103 servem como meio de integração na difícil topografia de Ferragudo."

Jornal Público, 02 de abril de 2014

Quando se observa o interior (http://p3.publico.pt/cultura/arquitectura/11515/ferragudo-tem-uma-casa-premiada-pelo-architizer) vê-se o porquê do prémio de arquitetura, mas, como mostra esta foto, do ponto de vista urbano, a casa nada tem a ver com a tipologia habitacional da malha antiga da vila. Infelizmente, a ausência de um plano de proteção dessa paisagem urbana única do Algarve, que é Ferragudo, tem permitido que aos poucos se descaracterize o que é tido como singular. Aos serviços da Câmara de Lagoa exigia-se que tivessem mais preocupações para além da qualidade arquitetónica do edificado. Porque é muito diferente quando um edifício está num conjunto ou fora dele, e se está num conjunto tradicional ou moderno. Acresce que a casa não nasce do nada, construiu-se à custa da destruição de uma pré-existente, uma atitude que não revela respeito pelo património.
Só para meditarmos, a casa tradicional não é apenas uma certa tipologia, é também um conjunto de materiais e formas de construir que estão extintas. Desaparecem as taipas e os adobes, tão presentes no sul do país, materiais imensamente mais ecológicos que os cimentos e tijolos e que garantem condições térmicas tão ou mais eficientes que estes modernos. 
Este prémio seria um verdadeiro motivo de orgulho se não atentasse contra o património ferragudense. Opinião polémica, mas convicta.

terça-feira, 25 de março de 2014

Pobreza

A fotografia que aqui vemos já faz parte da memória histórica do mundo ocidental. Foi tirada nos anos de chumbo da Grande Depressão americana, nos anos 30. Resultado da crise que rebentou em 1929 devido à instabilidade e desregularização do setor financeiro. Consequências: falências, muito desemprego, fracturas sociais. Felizmente, os EUA tiveram um presidente à altura, que não teve medo de aplicar medidas de esquerda para contrariar a derrocada. Na Europa já se sabe, Salazar, Franco, Mussolini, Hitler, etc., esses preferiram pôr ordem nos pobres desordeiros à força do bastão.
Veja-se a outra foto, em baixo, onde a guarda desanca num grupo de mulheres grevistas ou que apoiavam os maridos grevistas (1943).
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São estes os resultados atuais, de 2013 (dados de março de 2014), de uma política de direita que protege o setor financeiro em vez de defender a sociedade democrática portuguesa que elege os seus representantes.
Repetidamente ouvimos dizer que vivemos acima das nossas possibilidades. Pois, veja-se a tristeza dos números sobre as pessoas deste país, que é Portugal:

2% não tem dois pares de sapatos de tamanho adequado;
2% não pode assegurar uma refeição de carne ou peixe por dia;
7% das crianças não tem possibilidade de fazer uma simples festa de anos;
10% não tem acesso à net por razões económicas;
11% vive em casa onde o número de pessoas é superior ao de assoalhadas;
20% não tem dinheiro para comprar roupa nova;
24% das crianças não participam em atividades extracurriculares, como natação ou música;
28% não tem meios para aquecer a casa adequadamente;
43% não pode pagar uma dívida inesperada no valor de um seu salário;
60% não tempossibilidade de pagar uma semana de férias por ano...

E no entanto o número de milionários em Portugal subiu durante o mesmo ano em que o número de pobres aumentava. O que isto lhe diz?
a) Não há dinheiro.
b) O dinheiro que há é mal distribuído.

Não hesite em denunciar aqui os casos de pobreza que conheça em Ferragudo, daquela visível ou mais disfarçada. Ter uma vida digna não é um luxo, é um direito!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Animais abandonados

Em dezembro de 2013, apresentámos em Assembleia Municipal uma proposta para que fosse implementado um programa de esterilização municipal, dirigido a animais domésticos errantes (que foram abandonados ou nasceram em liberdade) e a animais com donos que quisessem optar por essa solução. 
A ideia era criar um serviço ambulante, em carrinha, em tudo semelhante ao que já existe para a vacinação, só que este programa seria destinado à esterilização, para alcançar a meta de redução significativa de animais errantes, nomeadamente cães e gatos. Uma medida suave que evitaria a atual política de abate. O abate não resolve verdadeiramente o problema, tem custos económicos e revela uma ética duvidosa.
A prática da esterilização para reduzir a sobrepopulação de cães e gatos é uma opção mais eficaz e economicamente menos dispendiosa face ao custo verificado com as recolhas, alimentação, eutanásia e incineração.
Na zona de Ferragudo é reconhecida a situação de existência de vários animais errantes, nomeadamente com a formação de matilhas, como a "matilha da Lota", que podem colocar em perigo outros animais, pessoas, ciclistas, e veículos motorizados. De tal ordem tem sido que se tornou mediática, com direito a páginas de jornal. Depois, forçosamente a Câmara lá terá capturado um ou outro exemplar para efeitos simbólicos. Não basta.
O Canil Municipal deve ter políticas proativas e humanas para a resolução deste tipo de problemas, que passam não só pelo controlo de doenças, mas também pelo diminuição das populações semi-selvagens, de forma suave e faseada, sem ter necessidade de recorrer a soluções radicais.
A proposta, não sabemos bem porquê, foi apodada de ridícula,  e extravagante, uma vez que, diz o recente partido com maioria na Assembleia (PS), que o Canil municipal tem todos os meios e tem realizado estas tarefas de forma cabal. Será?! 
O problema parece não ter desaparecido e a política de avestruz não costuma resolver seja o que for. Resta-nos apelar aos cidadãos para que sejam mais conscienciosos na relação com os animais, não os abandonando, tratando-os e adotando aqueles que foram abandonados.